Gostaria de seguir os passos de os poetas para viver no mundo do Parnaso, envolto em ritmos e rimas que somente eles conseguem combinar , numa simbiose de ternuras e de encantamentos.
Houve mesmo quem apreciasse os sonetos e me incentivasse a continuar na lide . Inútil estímulo . Em determinada tarde , rasguei grande parte daqueles míseros rabiscos . Alguma coisa , sobrou. Escondi dentro de um velho baú , sem nunca verificar se realmente eram poemas maus ou ruins .
Diga-me, porém , velho bardo – como trovar ?
Conta-me o segredo . Ensina-me a nobre arte de compor versos semelhantes aos que leio na calada da noite , sentado na cadeira de balanço , longe do barulho da praça , entre lições e ensinamentos saídos das páginas de uns tantos alfarrábios , que transportam, ao presente , imensa saudade de um passado distante e feliz .
Reúne muita coisa antiga , nada de interesse coletivo . Talvez , nem mesmo para a família , depois de meu enterro . No máximo discutirão sobre a melhor maneira de aproveitar o local ...
O tempo não lhe modificou a pose imperial, sequer a fisionomia , o ar de cumplicidade , parceira de lutas inglórias. Encara-me como se dominasse o cenário e assim se comportando, reaviva, em mim , idéias e produções de outrora ...
Faltam-me predicados .
Daí o estranho sentimento que corrói a alma . Fere o coração . Machuca o espírito . Provoca desânimos difíceis de agüentar , sem fugas ou correrias.
Recordo – como esquecer ? – daquela manhã molhada de chuva , quando , de mãos entrelaçadas, cruzamos olhares ainda aguados de mar . Surgia, no firmamento , um enorme arco-íris .
Imaginando conquistar seu coração , desenhei sobre o solo umedecido:
Havia barcas no rio ,
Havia barcas no mar ,
E todas as barcas do rio ,
Lembravam noivas sorrindo,
Sorrindo para o luar !
********
Espero, com paciência . Nalgum momento , a graça do lirismo compreenderá minhas lamúrias e cederá aos apelos de paixão .
Custa-me aceitar tormentos eternos .
Nenhum comentário:
Postar um comentário