domingo, 12 de junho de 2011

AMOR AO PARNASO

Gostaria de seguir os passos de os poetas para viver no mundo do Parnaso, envolto em ritmos e rimas que somente eles conseguem combinar, numa simbiose de ternuras e de encantamentos.
Entretanto, não alcanço poetizar e isto me deixa acabrunhado e triste. Muito triste.
Tentar, sim, intentei -  na mocidade.
Houve mesmo quem apreciasse os sonetos e me incentivasse a continuar na lide. Inútil estímulo. Em determinada tarde, rasguei grande parte daqueles míseros rabiscos. Alguma coisa, sobrou.  Escondi dentro de um velho baú, sem nunca verificar se realmente eram poemas maus ou ruins.
Diga-me, porém, velho bardocomo trovar?
Conta-me o segredo. Ensina-me a nobre arte de compor versos semelhantes aos que leio na calada da noite, sentado na cadeira de balanço, longe do barulho da praça, entre lições e ensinamentos saídos das páginas de uns tantos alfarrábios, que transportam, ao presente, imensa saudade de um passado distante e feliz.
Livros, papéis, miudezas e cacarecos  permanecem num cantinho da casa, espécie de museu-fantasma.
 Reúne muita coisa antiga, nada de interesse coletivo. Talvez, nem mesmo para a família, depois de meu enterro. No máximo discutirão sobre a melhor maneira de aproveitar o local...
 Ali também reside, impávida, sem perceber o final de seu reinado, a  máquina de escrever Lettera 22 , para quem o laptop, os computadores, a centena de disquetes e outros apetrechos  modernos não passam de vassalos.
 O tempo não lhe modificou a pose imperial, sequer a  fisionomia, o ar de cumplicidade, parceira de lutas inglórias. Encara-me como se dominasse o cenário e assim se comportando, reaviva, em mim,  idéias e produções de outrora...
Humilde, imploro conselhos .
Poetas e trovadores, digam-me - como versejar?
Desejo ardentemente ouvir as vozes da inspiração.
Contudo, advirto – perambulei pelas ruas. Troquei palavras de doçura com estranhas criaturas nos escaninhos da terra. Percorri areais imensos, montanhas e pélagos profundos, desertos e planícies. Caminhei sobre pedras à procura de harmônicas expressões capazes de atender aos apelos da lira, comigo maldosa, silente. Nada consegui.
Faltam-me predicados.
Daí o estranho sentimento que corrói a alma. Fere o coração. Machuca o espírito. Provoca desânimos difíceis de agüentar, sem fugas ou correrias.
Consciente da mediocridade, da carência de privilégios, conforta-me a convicção de amar a poesia,  jovem catita, moça carinho, formosa  donzela, lábios de carmim, oferenda sedutora. Cândida presença, que nas horas de meiguice permuta, com seu amásio, afagos casadoiros.
Perversa, recusa ao convite para subir comigo até o Santuário, onde nos aguarda o pároco disposto a abençoar nossas juras e celebrar o matrimônio.
Desalmada, nega-se ao ato nupcial.
Recordo – como esquecer? – daquela manhã molhada de chuva, quando, de mãos entrelaçadas, cruzamos olhares ainda aguados de mar. Surgia, no firmamento, um enorme arco-íris.
Imaginando conquistar seu coração, desenhei sobre o solo umedecido:

Havia barcas no rio,
Havia barcas no mar,
E todas as barcas do rio,
Também aquelas do mar,
Lembravam noivas sorrindo,
Sorrindo para o luar!
                                                           ********
Espero, com paciência. Nalgum momento, a graça do lirismo  compreenderá minhas  lamúrias e cederá aos apelos de paixão.
Custa-me aceitar tormentos  eternos.
Todavia, desde agora, meu destino poderia ser melhorter o sol mais aberto em cada mão!

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