Faz frio e a noite está alfinetada de estrelas . É sempre assim nesta época do ano . Pode-se notar no espaço infindo bilhões de pirilampos prateados . São mundos distantes , ainda inatingíveis .
A atmosfera terrena acolhe balões multicoloridos. São outros tantos astros , estes sim , artesanais , portadores de alegrias infantis e esperanças passageiras. Todos cairão a seguir , sem forças para permanecerem no espaço . Enquanto não descem, enfeitam nosso firmamento e amedrontam matas e metrópoles . Recebem nomes interessantes – balão almofada , charuto , pião ... Muitos , formosos , carregam lanternas ou bilhetes de amor , aramados nas bocas fumegantes .
É tempo de festa caipira nas montanhas sertanejas.
A cidade grande mal lhe percebe a boniteza. Nada se iguala ao arraial acolhendo a simplicidade de moçoilas dançantes com seus vestidos rendados , laços vermelhos à cintura e o musicar das sanfonas . Os homens agasalham-se como podem. São as desigualdades da vida , construída nas enganações da sorte e da fortuna .
As noites de junho são como as tardes de maio . Plácidas, serenas, tenras, envolventes, portadoras de paz e de felicidade aos corações singelos .
É neste ambiente de nostalgias e de saudade não dominadas, que se realizam as festas dos Santos maiores – Antonio, casamenteiro . João, o bem amado . Pedro, sentinela do reino , pescador de almas . Cada qual tem seus adeptos , cada qual a devida homenagem .
O cronista prefere a festa de São João.
Tenho um xodó especial pelo dedilhar de violas dolentes e os cantares afinados dos seresteiros com sotaque interiorano .
Existe no mundo algo semelhante ?
Ao saborear uma cocada-de-fita recordo da velha Ambrósia, cozinheira ; em cada paçoca a presença de Idalina, briosa portuguesa que deixava às escondidas , num canto da sala de almoço , mil guloseimas para o menino não dormir sem matar desejos de criança .
Uma noite comprida , repleta de estrelas .
Terminará ao nascer da aurora . Enquanto sol não brilhar haverá pinhões e pipocas . Milho torrado. Biscoitos de polvilho azedo . Broinhas de fubá . Compoteiras cheias de doces e geléias . Gulosas tentações .
Seguindo o Vai-se arrastar o pé ao som de sanfonas gementes. O moço beijará a menina com aroma de flor-do-campo, perfume de mulher . O velho pulará a labareda , em fase de extinção , pensando na juventude . O coreto da Praça , todo iluminado, abrigará o grupo musical executando, com esmero , valsinhas brasileiras. O cortejo sairá da igreja improvisada com o noivo de botinas e chapéu de palha , pito acesso junto à boca de poucos dentes , manquitolando em companhia da noiva , lábios de carmim .
O arraial vibrará de alegria . O busca-pé assustará as vetustas salientes .
N´algum recanto do céu , a esta altura São Janjão, pedirá aos serafins , que silenciem as trombetas para melhor ouvir o alarido na festança de seus devotos ...
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