quinta-feira, 16 de junho de 2011

CONQUISTAR AMIGO É ELEGER SEM FRAUDES

          Existem gestos e frases que marcam para todo sempre seu autor. São frases e atitudes que, via de regra, caracterizam um período histórico e a situação existente na sociedade quando manifestados. Os exemplos se multiplicam numa velocidade superior à condição intelectual humana de armazená-los como se fossem pendrives capazes de abrigar grandes bibliotecas.
 Não me refiro às asneiras. Estas desaparecem entre cínicos aplausos e sinceras gargalhadas. Em pouco tempo ninguém se recorda da estultice, vai para o lixo da memória. Aliás, o homem, ao descobrir ser possuidor de utilíssima lixeira cerebral instalou o artefato no computador. Basta simples teclar para tudo diluir no entulho cibernético. Nada recorda nada. A glória do mundo é transitória. Rei morto, rei posto!
Refiro-me às proposições que nos fazem refletir e sobre as quais devotamos admiração para o sentido e os desdobramentos da ousadia.
Luiz XIV, o Rei Sol, proclamou aos súditos - “O Estado sou Eu.” Jamais imaginou que o neto seria caridosamente decapitado pelo terror revolucionário francês. Maria Antonieta, intrigada com a falta de pão sugeriu ao povo comer biscoitos (brioches) para saciar a fome das ruas. Tivesse sorte, escaparia da guilhotina, caso não fosse reconhecida na fronteira pelo sotaque austríaco e o odor de seu perfume predileto.
Julio Cesar ultrapassa o Rubicão, conquista a Gália, grita aos romanos – “vim, vi, venci”. Mais tarde, na porta do Senado, ao receber a derradeira facada traiçoeira, volta-se para os sicários, encara o filho predileto, balbucia – “até tu, Brutus”?   E Brutus era um homem honrado.
Hitler anunciou a instauração do III Reich para durar mil anos. No curto espaço de 12 anos, assume a chancelaria alemã, leva o mundo à guerra e suicida-se em Berlin ao lado de Eva, a amante. Alguém fez esta conta?
Jesus exclama em desespero - “meu Pai, por que me abandonaste”?  Ironicamente, o cristianismo floresce um pouco por toda parte, modo especial em Roma, sede de o maior e mais poderoso império de todos os tempos, cujo representante na Palestina determinou seu sacrifício.
Lincoln, no Cemitério de Gettysburg, solicitou que nunca ofuscassem da face da terra “o governo do Povo, pelo Povo, para o Povo.” Em breves palavras definiu o valor da moderna democracia. Booth, quem disparou o tiro fatal contra o grande líder verificou que sua insensatez fora “inútil, inútil...”
Churchill prometeu aos ingleses “sangue, trabalho, suor e lágrimas”. Bebia, fumava, era mulherengo, distraia-se pintando quadros. Exerceu inigualável poder de liderança. Falou de fé aos desesperados, de porto aos náufragos, de esperança aos que fraquejavam, de reconstrução às ruínas. Colocou coragem a serviço da Liberdade e conduziu esta à Vitória contra a tirania nazista!
Gandhi empregando a força da consciência civil resistente, pacifista, demonstrou aos colonizadores da Índia, que chegara à hora de se presenciar o nascimento de um país capaz de governar-se com leis, costumes e tradições intransferíveis. A humildade derrotou a soberba de os poderosos. 
 Mandela atormentou-se nas prisões da África do Sul. Germinou na cadeia o surgimento de um Estado onde seus irmãos pudessem viver com direitos de cidadania. Deus concedeu-lhe a graça de assistir seu povo bailar a dança da igualdade racial. Igual sorte não teve o pastor Luther King. Também teve “um sonho.” O brado de I Have a Dream soou por todos os rincões da América. Assassino e assassinado não puderam comparecer à cerimônia de posse de um negro na Presidência dos Estados Unidos. Contudo, muito antes, consagrara-se o princípio do Direito de todos perante a Lei, excluída qualquer discriminação étnica, religiosa ou que mais o seja.
Os mártires de nobres ideais sobrevivem morrendo. Os carrascos falecem no momento de executá-los.
Assim como não desejo ser escravo, não almejo o senhorio. Quero a vida, sim. Entretanto, sem respeito e dignidade melhor perdê-la, a prolongá-la.
Amarrado à fogueira da inquisição, o filósofo Giordano Bruno encarou os carrascos e lhes assegurou – “maior do que o medo que tenho de vós é o pavor que tendes de mim”.
Eu gostaria de morrer doutra maneira; sem fadiga, sem dor, assim como caí uma estrela, como expira um som, como morre um raio de luz em águas claras, quando surge a madrugada.
 Verde que te quiero verde – Encostado a uma parede, em Granada, Garcia Lorca recebeu no peito a bala que destruiu seu amor à poesia.
Por capricho da natureza não comandamos nosso amanhã. Resta sonhar.
Existem os frustrados. Sujeito é lúcido, admirado por seus pares, julga pronunciar-se de modo a ser ouvido pela posteridade, atola-se num lamaçal.
Vamos à Pátria, Mãe Gentil. Na Constituinte de 1824, José Bonifácio, o Patriarca, defendeu a necessidade de o país promover a Reforma Agrária. Até hoje... Um porta-voz da Presidência - há pouco - compareceu à TV, mandou brasa:- “o chefe está plenamente informado de tudo. Isto não significa que esteja acontecendo alguma coisa”. O tartamudo Inocêncio foi mais claro – “os cargos são finitos, mas a vontade de ocupá-los é infinita. Assim não dá”. Razão assistia ao Sergio Porto, o inesquecível Stanislaw – “ou todos se locupletam ou que se restabeleça a moralidade”.
Henry Kissinger, no auge de as andanças diplomáticas teve noite de desabafo – “na próxima semana não pode haver nenhuma crise no mundo. Minha agenda está lotada”.
A gente conferia idéias a respeito durante o trajeto entre o jornal e o bar.
Nenhuma surpresa o tilintar do celular. Era o próprio.
- Sim, Cuna, que houve? Mal acabei de escrever. Não vem? Não pode? Qual dificuldade?
- Praiano. Relaxa e goza. Problema sério. Merece manchete. Aredação” continua de ressaca!
- Preocupa, não, camaradinha. Gravidez passageira. Rei na barriga. Toma um Engov, soluciona.                                                               Em hora e meia estará pronto para outra.
A vida tem aspectos positivos. Serve para encerrar uma crônica e recordar que conservar amigos é como eleição sem fraudes. Raríssimo acontecer.

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