sábado, 25 de junho de 2011

A JORNADA DAS IDÉIAS

            Pior do que não ter idéias é mantê-las estagnadas.
Horroriza a inteligência de qualquer mortal o fato de precisar conviver com indivíduos de pensamento único. A imobilidade cerebral liga-se à preguiça de raciocínio e à necessidade psicológica de o inerte projetar imagem de ser uma pessoa coerente.
Existem sujeitos que atravessam décadas falando as mesmas coisas, repetindo os mesmos chavões, utilizando lições aprendidas através da leitura de alfarrábios pertencentes aos antepassados de saudosa memória.
Não conseguem enxergar quanto o mundo caminha, a ciência progride, a sociedade se transforma.
São pobres diabos a serviço da inutilidade político-social.
A triste realidade é que perambulam por toda parte e se reproduzem de maneira assustadora.
Quem disse indispensável sair procurando tipos assim, quando eles infestam a vizinhança?
È o professor que reprisa preleções, ano letivo acaba, novo principia. O médico avesso ao estudo, insistindo em prescrever remédios há muito condenados pela modernidade terapêutica. O bacharel descuidado quanto à reforma de leis, mudanças na jurisprudência, evolução doutrinárias. O Administrador de Empresa teimoso em perpetuar a forma de relacionar-se com os companheiros de trabalho até dar com os burros n água. O historiador desatento às descobertas arqueológicas e ao conteúdo de documentos mal pesquisados, cujos textos foram distorcidos por interesse de poderosos de toda ordem e grandeza. Imagino-me contando aos netos a viagem de Cabral tal como aprendi na infância. Cairão na gargalhada.
 Mudar de idéia nunca me pareceu incoerência.
 Sempre achei virtude abandonar conceitos ou pontos de vista, tão logo se perceba existam outros melhores. Aceito a substituição de convicções religiosas caso a nova crença venha a sublimar estruturas espirituais que possibilitem maior aproximação com as eternas fontes do Amor divino.
 “Ser no mundo implica transcender ao mundo”.
 Determina a qualidade de caráter do Ser Humano sua fidelidade a princípio que lhe seja caro, desprezadas conveniências de ocasião.
 O político que teima em sustentar posições unicamente para obter proveito eleitoral é indigno de consideração e respeito. Admira-se, porém, quem abandona um partido ou associação por discordância moral ou ideológica. É enorme a diferença entre as opções em causa.
A humanidade condena a perfídia dos abjetos.
Todavia, conhece o momento exato de engrandecer a coragem do cidadão capaz de assumir aparente incoerência em nome da coerência de fundamentos que lhe valorizam a honra e o exercício da própria liberdade.
A existência terrena, em si, é de uma inconstância atroz, peculiarmente dinâmica.
A racionalidade é pedra bruta a ser lapidada com pudor. Jamais por impulsos de emoções passageiras
Há um verso bonito na literatura hindu – “o verdadeiro sábio não lamenta nem a Vida nem a Morte”.
A marcha do pensamento não se caracteriza pela velocidade uniforme. Possui nuanças prontas a adaptar-se às imposições conjunturais.
Importa não perder o trem da História. Agrava a situação permanecer sentado num banco qualquer à espera da passagem prometida pelos saudosistas da Maria Fumaça. A Terra se defronta com novidades ao término de cada rotação.
Evite fossilizar-se.
            Urubu não costuma beliscar ossada sem carniça esquecida em beira de estrada.

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